Depois de 14 meses consecutivos de queda, o número de beneficiários de planos de saúde voltou a registrar em agosto uma leve alta, fechando o mês em 48,3 milhões de vínculos – acréscimo de 32.148 beneficiários em relação ao mês anterior, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Atualmente, são 48,3 milhões de beneficiários de planos de saúde no país e 22,3 milhões com planos odontológicos. Apesar do ligeiro aumento dos dados de agosto em relação a julho, verifica-se queda na quantidade de beneficiários nos meses anteriores.
“Com relação a essa redução, é importante destacar que a contratação de planos de saúde no Brasil está diretamente relacionada à empregabilidade formal e ao poder de compra do cidadão. Num cenário econômico adverso, é natural que haja redução no número de beneficiários nos convênios médicos”, comenta o médico José Carlos de Souza Abrahão, diretor-presidente da ANS.
Um dos grandes desafios de todos os países em relação aos planos de saúde é garantir acesso ao convênio médico contratado pelo beneficiário com qualidade e em prazo oportuno.
Para o presidente da ANS, outro desafio está na implementação de novos modelos assistenciais e de remuneração dos serviços prestados para lidar com questões como o envelhecimento populacional crescente, a necessidade de incorporação de novas tecnologias e o combate ao desperdício e às fraudes.
“Por isso, é necessário mudar o atual modelo assistencial e de pagamento por procedimentos na saúde suplementar, sem perder de vista a melhoria do atendimento aos beneficiários de planos de saúde. Além disso, o setor deverá buscar formas de reduzir desperdícios”,complementa Abrahão.
A presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fena Saúde), Solange Beatriz Mendes, também acredita no processo de estabilização da economia para que a saúde suplementar comece a registrar o retorno do equilíbrio, à medida que os
beneficiários recuperarem seus empregos e o poder aquisitivo.
“A partir desse cenário, os números do setor podem se elevar com a retomada do desenvolvimento do país. Atualmente, cerca de 66% dos vínculos contratuais são de coletivos empresariais. O segmento, portanto, está muito associado ao comportamento da economia e à geração de emprego formal e renda”, ressalta a executiva.
Vale destacar o cenário econômico financeiro das operadoras de planos de saúde referentes ao segundo trimestre de 2016.
De acordo com os dados da ANS, a receita de contraprestações (pagamento de uma importância pelo contratante de plano de saúde a uma operadora para garantir a prestação continuada dos serviços) aumentou 12,3% no primeiro semestre de 2016 em relação ao mesmo período do ano passado. Já as despesas assistenciais cresceram 13,2% no comparativo dos dois períodos.
“Ou seja, as despesas assistenciais continuam a crescer, historicamente, em ritmo mais acelerado do que as receitas”,
alerta a presidente da Fena Saúde.
No Brasil, a inflação médica tem alcançado, em média, patamar duas vezes superior ao indicador que registra os demais preços da economia.
Entre 2007 e 2016, os gastos per capita com saúde no Brasil cresceram 158,74%, enquanto a variação do IPCA foi de 74,74%
no mesmo período.
“Fatores como o aumento da frequência de uso dos recursos médicos – estimulado pelos próprios prestadores de serviço, que, no modelo vigente no Brasil, são remunerados por quantidade de procedimentos; preços elevados de materiais e medicamentos; incorporação de procedimentos obrigatórios ao Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, como é feita hoje, sem a análise crítica da relação custo-benefício; e desperdícios precisam ser amplamente debatidos pela sociedade para viabilizar a sustentabilidade da saúde suplementar”, afirma Solange.
Os hospitais representados pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anaph) estão abertos à discussão sobre qualquer
modelo que não passe apenas pelo controle de preço.
Para o presidente da instituição, o médico Francisco Balestrin, as questões são mais estruturantes do que o aumento ou a diminuição do número de beneficiários e passam necessariamente pela revisão dos modelos assistenciais atuais.
“Além de fatores como os epidemiológicos e o envelhecimento, atualmente, há um descontrole do acesso a procedimentos
custosos e, consequentemente, aumento da sinistralidade para as operadoras de planos de saúde. É preciso investir na gestão clínica do paciente, fortalecer a medicina preventiva e as ações de promoção da saúde para reduzir risco de doenças, o que tende a melhorar a qualidade de vida do beneficiário e a evitar a realização de procedimentos desnecessários”, complementa.
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